9 de fev. de 2014

Confissão

Já estão chegando os 29 e eis uma reflexão:

Confissão

Vinte e nove anos. Um pouco bocado de vida passada, se isto se for aguentando, tomba daqui, tomba dali. E tudo por fazer! Comecei tarde, sem nenhuma preparação, e com defeitos horríveis, que tenho ido limando pouco a pouco, mas que resistem como fortalezas. Nasci afirmativo demais, puritano demais, uno demais, apesar duma timidez confrangedora, duma aceitação natural da volúpia e duma dispersão aflitiva a cada instante.
Tenho medo dum polícia e sou capaz de enfrentar um exército; passo a vida a praticar virtudes que proíbo terminantemente aos outros; escrevo um poema. De maneira que nunca consegui encontrar aquele equilíbrio criador onde julgo existir o pomar das grandes obras. Debato-me entre forças contraditórias, e ao cabo de cada tarefa sinto-me insatisfeito e culpado como um pecador que não cumpriu bem a sua penitência.
Não tenho ambições fora da arte de viver, e, dentro dela, só desejo conquistar a glória de a ter servido humilde e totalmente; mas não consegui ainda dar-lhe tudo. Para isso era preciso calcar aos pés o homem civil que sou. Necessito de ter as minhas contas em dia como qualquer mortal honrado, e afligem-me os assuntos do mundo como casos pessoais. Também tenho afetos. E a trama de deveres e apegos, embora redima um homem do seu egoísmo nativo, rouba-lhe força criadora.
Abandono tudo para correr a casa dum amigo que está com dor de dentes, e passo uma noite em claro com um doente. Mas a minha fraqueza maior é não poder desprezar ninguém, mesmo os próprios inimigos. São meus semelhantes, apesar de tudo, e eu não consigo descrer do homem, seja ele como for. Em vez de os esquecer, trago-os no pensamento. Sofro por eles.
A minha grande alegria é admirar os outros, e procuro encontrar em cada um as linhas positivas do seu caminho. Afinal somos todos elos de uma grande corrente, e é pelos "ferrujentos" que ela pode quebrar. Aflijo-me, solidário com a sua humanidade, que gostava de ver mais generosa, sem reparar que o tempo desaparece, alheio às razões que impedem a semente de germinar.
E tudo por fazer!
Mas quê! Quando devia estar a ler os clássicos, andava a tomar café; quando me apetece escrever, estou a jogar conversa fora; e quando é preciso salvar o artista, ponho-me a salvar o homem.

Adaptado de "Confissão" de Miguel de Torga.

9 de nov. de 2012

Palavras

Como me encantam as palavras! Em suas entranhas existem brilho e escuridão. O mesmo paradoxo dialético que fiz sobre a chuva outro dia. E isso me maravilha. Como uma alma pode reviver com palavras! E como várias podem morrer de uma vez só ao soar de um conjunto de pensamentos encadeados.

Admiro quem sabe construir edifícios de palavras. Admiro textos bem escritos, bem elaborados e que despertam sentimentos únicos no leitor. Quero um dia me tornar um grande artista de palavras, se Deus assim me permitir, e saber erguer nem que seja alguns sobrados... já que os arranha-céus considero uma ambição grande demais para mim.

Existem pessoas que mistificam e adornam de mistério e magia o encadeamento das palavras. Eu admiro apenas o poder de construí-las! O restante de poder contido nelas (ou não) são apenas consequências de belas e inteligentes obras arquitetadas.

Me graduei em jornalismo por essa paixão. Por tentar entender um pouco da construção, mesmo que factual, de um texto seja ele informativo ou simplesmente "viajativo".

Confesso que tenho que me dedicar mais às letras, às palavras, às frases e aos textos. Tenho que me dedicar às ideias. Ideias que antes de transformar o mudo, transformam a mim mesmo quando em ebulição no meu ser, clamando o exterior. Por isso tenho que viver e escrever... escrever e viver. Pois com uma construção de palavras tudo se fez: "E haja luz!".

5 de jul. de 2012

Criatividade e bom som!

Para quem ainda duvida que na Paraíba existem profissionais criativos... vejam:


Parabéns a todos envolvidos nessa produção!

2 de jul. de 2012

Chuva


Faz bastante tempo que não apareço por aqui. O ativismo do cotidiano me consumiu cada vez mais que chegou ao ponto de achar melhor dormir do que escrever. E ainda acho! Mas hoje, minha mente e o meu "ser jornalista" há alguns dias adormecido me pediu um texto. Me pediu algumas linhas escritas qualquer. Mas não quero que seja um texto qualquer... tem que ser bom. Ao menos para mim!
A chuva hoje per corre as ruas, becos e avenidas da cidade de Campina Grande. Fico imaginando que reações este fenômeno da natureza pode trazer às pessoas. Imagino algumas solitárias em casa, chorando; algumas crianças correndo pelas ruas, tomando o tão desejado banho-de-chuva. Sim, com hífens, pois de tão significativo já se torna um substantivo. Imagino também a chuva enfermando alguns com gripe, e curando uns outros com a lavagem da alma.
A chuva é sempre simbólica. Pode ser o choro, pode ser a risada. Pode ser uma angústia, mas também pode se travestir de alívio. Há quem não goste dessa época, mas eu adoro. Creio que co a chuva as cores ilusórias desaparecem, e o verdadeiro ânimo (ou desânimo) de vida das pessoas ficam mais evidentes.
Eu prefiro correr na chuva. Prefiro tomar o tão renovador banho. Mesmo que alguma lágrima escape e se camufle  de gota, sei que a chuva é mais forte. E lavará sempre uma alma com sorriso ou com choro.

2 de mar. de 2012

Teu sorriso


Teu sorriso ilumina,
Abre a porta para que o sol entre.
Nesta sala antes escura e fria,
Agora uma sala alegre e quente.

Tua presença em si só me mostra
Que o sorriso é a força que preciso,
E me espelho em tua boca
Para também abrir o meu sorriso.

Você me constrói e desconstrói
A cada sorriso e chorar.
Minha alma se despedaça
Quando o teu sorriso faço cessar.

Mas há mais sorriso do que choro;
E no sorriso, o teu calor
Me mostra como sou criança,
Como também sou homem...

E como me tornei o nosso amor.

Eu amo como você sorri,
Amo o jeito da tua boca.
Cada canto dela, cada forma, cada gesto
Traz um suspiro, uma pulsação mais forte.

Por isso eu peço:
Nunca deixes de sorrir pra mim.
Não quero voltar à sala escura,
Quero sempre ter motivos para também sorrir.

Para você... sempre!